quinta-feira, 8 de março de 2012

Shenmue


Shenmue (Sega AM2, Dreamcast) - Lançado em 29 de Dezembro de 1999, é um adventure open-world publicado no Dreamcast que foi dirigido por Yu Suzuki. Na época de seu lançamento, ele disse que o jogo se tratava de um novo gênero, "FREE" (Full Reactive Eyes Entertainment, traduzido literalmente para "você pode reagir com qualquer coisa do cenário que você veja"), o que era realmente possivel.

O jogo simula aspectos da vida real, como um sistema de Dia/Noite/Sono, variações climáticas que implicavam em mudanças no cenário (coisa inédita na época), todos os NPCs do jogo dublados e com suas próprias tarefas diárias, além de Quick Time Events (apertar o botão na hora certa para realizar uma ação) e interação com máquinas que vendem lanche, arcades e lojas de conveniência.

Shenmue pega emprestado pra si mesmo elementos de vários outros gêneros, mas o centro do jogo é um adventure com segmentos de batalha em tempo real 3D com QTE. Foi o jogo mais caro já produzido da história até 2008, com sua produção tendo custado 47 milhões de dólares (equivalentes a 64 milhões nos dia de hoje). Mas mesmo tal produção gigantesca não salvou a série de um baixo número de vendas e também fez um grande rombo nos cofres da Sega.

A história se passa no distríto de Yokosuka, Japão. As quatro principais áreas de Yokosuka presentes no jogo oferecem ao jogador total liberdade de exploração. São eles: Yamanose, Sakuragaota, Dobuita e o porto de Yokosuka. Cada uma dessas áreas tem suas próprias caracteristicas e são liberadas de acordo com o avançar do jogo.

A data é: 29 de Novembro de 1986. Ryo Hazuki está retornando ao dojo de sua família e vê o seu pai, Iwao Hazuki, lutando contra um homem alto e escabroso vestindo uma roupa verde de Kung-Fu chamado Lan Di. Ele ordena Iwao à entrega-lo um item chamado de "Dragon Mirror" mas o mesmo se recusa a dizer aonde ele está.

Ryo tenta impedir a luta depois que seu pai corre mas é ferido por Lan Di. Ele então levanta Ryo pelo pescoço e o ameaça de matar com um último golpe, o que leva ao seu pai Iwao revelar a localização embaixo da árvore de Sakura. Depois de pegar o mirror, ele menciona o nome Sunming Zhao, que Iwao pensou ter matado em uma vila rural Chinesa.

Isso então leva os dois a entrarem em combate pela última vez, então Lan Di dá um golpe mortal em Iwao e deixa o local. Iwao morre logo em seguida nos braços de Ryo, que revela antes de morrer que deseja vingança acima de tudo. É aqui que o jogo começa. Essa cena que eu narrei são os acontecimentos iniciais, uma belíssima cutscene que já mostra muito bem os gráficos do jogo.

A jornada começa com Ryo procurando pistas com as pessoas da cidade sobre o que aconteceu na cidade durante o dia do assassinato. Buscando informações aqui e ali a trama vai se desenvolvendo até o seu desfecho - que infelizmente é apenas um presságio para Shenmue II mas já bastante surpreendente.

Ryo pode interagir com todo e qualquer objeto do cenário. Tá com fome? Compre um lanchinho numa máquina em qualquer esquina do jogo. Quer se divertir? Vá numa casa de arcades e jogue Hang-On ou Space Harrier para relaxar um pouco. O seu gatinho tá com fome? Vá até o petshop e compre alguma ração pra ele. As possibilidades são muitas, até mesmo uma coleção de VHS pode ser feita e participar de um sorteio na loja de conveniencia para ganhar um jogo de Sega Saturn e usar o seu na televisão é possivel.

Shenmue vai muito além de apenas recriar a cidade japonesa de Yokokusa: nos 5 meses que o jogo se passa, Yu Suzuki tentou manter as qualidades e a cultura que eram típicos da cidade naquela época. Os dojos de artes marciais e vários lugares que mostram cultura típica Chinesa e Japonesa juntas eram aspectos comuns da cidade antes de uma grande influencia americana chegar por lá.

Vamos agora falar dos aspectos da jogabilidade.

O foco principal do jogo é a busca de pistas sobre o que aconteceu no dia que Lan Di chegou ao dojo e reunir informações o bastante para conseguir acabar com ele. Você irá conversar com pessoas e fazer alguns favores em troca dessas informações, que são todas guardadas em seu diário - bastante útil para lembrar tudo o que já foi feito anteriormente.

Esse diário também serve como um guia para a jornada: uma vez que você obtem uma nova informação e ela é colocada lá, dá pra acompanhar se ela foi pega na ordem certa ou você deixou alguma coisa pra trás. Claro que também há várias side-quests que irão dar vários itens úteis durante o jogo. Itens são colecionados e experiência em artes marciais são obtivas para facilitar o combate.

Uma coisa bastante explorada durante a jornada são os eventos QTE. Nesse momento, a camera muda para uma perspectiva mais cinematográfica e tudo o que você tem que fazer é apertar os botões que aparecem na tela para concluir a tarefa com sucesso. Pode parecer fácil no começo mas elas vão aumentando a dificuldade gradativamente com o avançar do jogo.

Não que o QTE seja a única forma de batalha do jogo. Haverão combates nos quais você controlará Ryo livremente e usará das habilidades em artes marciais que são adquiridas nos dojos pela cidade. Quanto mais experiência em combate, mais golpes você tem disponiveis e maior é o dano causado aos inimigos. Para treinar nesses jogos, você deve conhecer o dono deles e aceitar suas ofertas de treinamento.

O sistema de variação climática produz várias mudanças no sistema do jogo; esse é o ponto que deve ser levado mais a sério no jogo. Para cada dia passado, as condições climáticas são geradas aleatoriamente e elas variam entre Chuva, Neve, Céu Nublado e Céu Ensolarado. Avançando no jogo, elas variações podem acontecer durante o jogo, e não só com o passar do dia.

Essas mudanças implicam no comportamento das pessoas: num dia chuvoso todos sairão de casa com guarda chuvas e capas e em dias com neve as ruas ficam lotadas com neve e as pessoas usam mangas compridas. Há também um sistema que permite você desfrutar das verdadeiras variações climáticas que ocorreram em Yokosuka em 1986/1987 ao invés das geradas aleatoriamente.

As duas versões de Shenmue acompanham um disco extra chamado "Passport". Ele nada mais é que um disco de aplicações que ajudam a expandir a experiência do jogo. A opção "Theatre" por exemplo, permite que você visualize todas as cutscenes que você desbloqueou até o momento no jogo principal, enquanto "Music" permite que você ouça as músicas das áreas que você já passou.

A melhor opção do disco é a "Information", no qual ajuda novos jogadores a entender as várias mecânicas implementadas no jogo como mini-games, as variações climáticas e as QTE. Nesse modo, personagens do jogo principal te explicarão as coisas enquanto você movimenta livremente a câmera e checar de perto todos os efeitos de iluminação e trabalho poligonal do jogo.

Havia também uma opção de conectividade com a internet chamada "Shenmue World" que dava ao jogador informações detalhadas sobre todos os aspectos do jogo (localização e personagens) e também havia um manual online. Depois foi implementado um "Network Ranking" no qual os jogadores podiam enviar seus recordes nos arcades disponíveis dentro do jogo e comparar com os outros jogadores.

Downloads, como icones de Shenmue para o seu VMU e itens colecionavéis para o jogo (como brinquedos podiam ser obtidos no "Everyone's Space" através de trocas. Também era possivel visualizar suas estatísticas como horas já jogadas, com que frequencia você jogava os mini-games, quantidade de itens comprados, etc.

Infelizmente, no dia 01 de Abril de 2002 esses serviços online foram todos desligados devido ao descontinuamento das redes online da Sega que foi logo após o cancelamento do console.

E como começou o desenvolvimento de Shenmue?

O desenvolvimento do jogo começou ainda em 1996, com Yu Suzuki querendo fazer um rpg tradicional com personagens da franquia Virtua Fighter. Ryo era inicialmente Akira. A medida que o desenvolvimento do jogo foi avançando, eles foram mudando os personagens e criando todos eles originais para o jogo.

Inicialmente, o jogo havia sido planejado como um "arrasta quarteirão" para o Sega Saturn. Apesar de ser muito poderoso na sua época, o video-game era bastante complicado de ser programado para fazer tais gráficos, fazendo até com Yu Suzuki falasse muitas vezes que estava com problemas no meio da sua produção. Mas com o declinio da plataforma, o projeto foi colocado na geladeira até o anúncio do Dreamcast.

Durante o seu desenvolvimento, o projeto foi chamado de "Project Berkeley" e várias demos do jogo foram usadas pela Sega para mostrar a potência do console. Shenmue foi um dos primeiros jogos a incorporar técnicas cinematográficas que eram usadas antes apenas nas grandes produções.

A dublagem é um desses pontos: além de ser gravada em duas linguas (Japonês e Inglês), não há um único personagem no jogo que não tenha sido dublado. O áudio em inglês foi tão bem elogiado que em 2000 foi lançado no Japão a versão "Shenmue USA" que nada mais era que o jogo dublado em inglês e com legendas em japonês.

As músicas do jogo também utilizaram uma orquestra cinematográfica que tocaram composições feitas por Takenobu Mitsuyoshi e Yuzo Koshiro. Outra coisa na época foi o "What's Shenmue?", um disco que mostrava um pouco do universo do jogo para aqueles que tinham adquirido o mesmo na sua pré-venda japonesa.

Algumas imagens e videos do jogo:


*Imagens gentilmente cedidas pelo site MobyGames.



Video do Gameplay no Sega Saturn, antes de ser cancelado.


E por hoje é só. Nem preciso dizer que Shenmue criou todo um legado depois do seu lançamento. Além de ter sido um grande avanço em jogos open world 3D (gênero que seria popularizado apenas em 2001 com GTA III) ele mostrou a capacidade da Sega em fazer grandes produções e também mostrou quase todo o potência do Dreamcast - e olha que o jogo foi lançado quando o console estava fazendo 1 ano de idade.

O jogo é tão grande que ele vinha em 3 GDs (Giga Disc, um "CD" de 1 giga criado pela Sega especificamente para o console) + o GD extra do Passport. Tantos discos foram requeridos para caber todo conteúdo do jogo (vozes, mini-games, variações climáticas) porém não havia uma única CG nele, a história era toda contada em cutscenescom gráficos reais do jogo - o que dava um traço ainda mais realistico ao jogo.

Infelizmente nem todo o investimento e trabalho da Sega foi recompensado nas vendas do jogo, que sofreu várias concorrências por onde foi lançado. Ele ainda chegou a passar de 1 milhão de cópias vendidas e está entre os jogos mais vendidos do Dreamcast, mas o jogo não se pagou e esse foi o primeiro passo para o fundo do poço que a Sega deu.

Mas mesmo assim, Yu Suzuki não desistiu. 2 anos depois ele iria lançar a continuação de Shenmue ainda mesmo no Dreamcast porém o jogo tomaria alguns rumos inesperados devido a cortes no seu orçamento. Na próxima semana vocês ficarão por dentro desses detalhes e muito mais, afinal mesmo com o corte brusco no orçamento  o jogo ainda ficou bastante profundo e complexo.

E bom galera, esse é o post de número 100. Há muito tempo já vinha planejando colocar Shenmue nessa ocasião porque ele é o meu jogo favorito de todos os tempos, mesmo eu não tendo terminado ainda seu universo vasto e personagens muito bem trabalhados me chamaram muita atenção e eu ainda irei terminar algum dia. Fiquem de olho que semana que vem tem mais!

Sigam-me os bons! \o\~~~~~~

7 comentários:

  1. Grande Usopp, cara dá para perceber em cada linha que você AMA Shenmue. Eu acho tudo isso que você escreveu de Shenmue fantástico. Vê só, um jogo dessa linhagem trazer tantos recursos e ainda por cima seria lançado para o Sega Saturn, mas ainda bem que foi lançado para o Dreamcast. Eu fico imaginando se fosse lançado no SS como seria o visual, a jogabilidade e até a divulgação, porque eu me lembro muito bem das revistas da época de 1999/2000 falar de Shenmue como o blockbuster do Dreamcast, ter um Shenmue para jogar em sua casa era ter o futuro, era participar de algo novo muito avançado para a época. Isso é muito legal de se ver e relembrar. Estarei esperando o Shenmue II. Um abraço carinha!

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    1. Exatamente carinha, na época eu tinha Dreamcast mas o meu jogo era pirata então ele era cheio de bugs e não deu pra aproveitar por completo. Na época eu nem entendia muito sobre esses detalhes técnicos todo mas o gráfico era coisa que deixava todo mundo besta quando jogava.

      Talvez o jogo não tenha colado mesmo porque ele é dificil de jogar, é necessário fluência de inglês pra fazer as missões em ordem correta (isso conta muito pra conseguir itens no jogo) e não caiu muito na graça "popular", acabou virando cult mesmo.

      Se tivesse saído no SS eu acho que seria praticamente a mesma coisa, porém não com a mesma maestria gráfica e não teria todos esses extras que fizeram dele uma experiencia única. Semana que vem tem Shenmue II, fica de olho ai carinha, abraço pra você também.

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  2. Bem que esses jogos open world/sandbox deveriam pagar tributo à Sega. Se Shenmue não criou o gênero, ele refinou os jogos e determinou como seria hoje.
    No Saturn, com 32 bits, ele já era bonito e bem bolado, e no Dreamcast ficou soberbo. Será que sai uma versão remasterizada na nova geração? Ou no PC, que a Sega tá começando a descobrir...

    Review muito bom, parabéns!

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  3. Ahh, então ele foi o grande culpado pela falência da SEGA? Jogo maaaauuu... hehehe! Tô zuando.
    Eu nunca joguei nem vi esse jogo, na verdade eu poucas vezes na vida encostei em um Dreamcast. O que eu considero como grande heresia da minha vida gamer, mas ainda mudo essa história! :)
    Pelo que li do review, gostei. Me pareceu um jogo bem interessante. Jogar Hang On e Space Harrier dentro do jogo deve ser muito louco!
    Aliás, muito bom o review!
    Abraços

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  4. Um jogo a frente do seu tempo. Apesar de ter jogado Shenmue a apenas a algum tempo (e o II no xbox) vejo que o tempo não acabou com a maestria e com a experiencia única que esse jogo proporciona. Apesar dos avanços graficos pra época, penso que o principal mérito de Shenmue é sua historia, seus personagens, tão profundos e cativantes e esse amor platônico do Yu Suzuki pelas Artes Marciais, tão bem representadas graficamente, beirando a perfeição e ao realismo. Com a "crise" que o mercado japonês enfrenta hoje em dia, penso que os game designers japoneses deveriam olhar para tras e aprender com os grandes mestres: Que gráfico, engine e DLCs não são tudo. Que as vezes tudo que se precisa é apenas uma boa imaginação e uma boa história pra contar.

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  5. Tenho a maior curiosidade de jogar Shenmue... acho que vô comprar um Dreamcast em breve... esse está na lista.

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  6. Quase cheguei as lágrimas com esse post, zerei Shenmue várias vezes na época deixei de pegar um Ps2 só por causa desse jogo, quando vi um review numa revista de games pensei: esse é o game que eu quero! E não me arrependi ainda me lembro da primeira vez que vi o personagem Lan Di em ação e pensei, esse cara vai dar trabalho! Mas ao terminar o game, vi que não enfrentaria ele ainda, e fiquei ancioso pela continuação..
    Abraço!

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